O que é escrever para você?

É uma viagem incrível e fantástica para dentro de nós mesmos. É confrontar o nosso pior e o nosso melhor. Os personagens tomam vida em nossa mente, e pouco a pouco se tornam cada vez mais reais à medida que participam de meu dia-a-dia, pois onde quer que eu esteja surgem diálogos e cenas que querem ir logo para o papel. Mas o mais incrível disso tudo é que eu aprendo constantemente com os personagens, pois eles têm vida própria e não dependem mais do meu processo criativo. Alguns são verdadeiros sábios e mestres, que trazem lições para minha própria vida. Outros me fazem rir. Outros me mostram a beleza do mundo e a simplicidade com que devemos tratar todos os pequenos “problemas” que nos afligem. E outros, não sabemos onde se encaixam nessa história, mas fazem a sua parte, pois a vivem plenamente. E aqui está outra grande lição: Viver plenamente a vida. Não a dos outros, mas a nossa vida.


Quando decidiu ser escritor?

Está idéia e ânsia de escrever vêm desde a infância. Ainda lembro do primeiro conto que escrevi. Devia ter 12 anos. Chamava-se “O Monstro do Pântano”, um conto de 15 páginas. Era sobre um monstro que ajudava as pessoas de um vilarejo, ao invés de assustá-las – essa é outra característica que tenho ao escrever. Crio personagens que surpreendem por fazerem o contrário do que achamos que eles deveriam fazer. São personagens livres. Todo “monstro de pântano” que tem uma atitude contrária à legião de monstros de pântano, passamos a admirá-lo (risos). – Sempre li muito desde a infância, o que considero fundamental para quem quer se aventurar na escrita. Sempre fui um “rato de livraria”. Quando tinha feiras do livro, era inevitável gastar mais do que tinha... Entrava em psicose literária e perdia o controle diante de uma montanha de livros.
Mas, foi quando tinha 33 anos que escrevi meu primeiro livro “No Silêncio do Coração”... E gostei muito do que escrevi. Imprimi algumas cópias no computador e passei para alguns amigos que passaram para outros amigos e assim por diante, e quando vi, pessoas que nem conhecia, começaram a me a mandar e-mails e cartas, dando seus depoimentos. Todos liam muito rápido o livro, pois a estória era envolvente. Dali em diante, criei coragem e decidi publicá-lo. Tomei a decisão de ser escritor, por que já estava viciado em escrever, e não por me achar um bom escritor (isso só o tempo vai dizer). Estava satisfazendo um vício incontrolável, e assim foram surgindo outros livros.


Foi difícil publicar seu primeiro livro com uma grande editora?

Nossa! E como foi. Parti do zero, sem nenhuma orientação. Foi um método empírico, de tentativa e erro. Um auto-didata no mundo editorial, que mandava o livro para qualquer parte do mundo. A pesquisa pela internet foi fundamental, e assim fui entrando em contato com milhares de agentes literários e editoras do mundo todo. Eram tantas pessoas que me correspondia, que muitas vezes me perdia e mandava o livro duas vezes para a mesma agência literária... E assim foi, até acertar. Mandei meu livro para todas as editoras, das maiores às menores. Onde quer que existisse uma possibilidade, tanto no Brasil como no exterior, mandava o livro (alguns capítulos) e a sinopse, pois eu não acredito no impossível. Foram milhares (e isso não é uma metáfora) de e-mails, telefonemas e cartas, e também milhares de ‘nãos’. Houve uma época em que tinha uma coleção de cartas negativas, mas bem educadas dos editores e agentes... Meu primo de 8 anos colecionava selos do mundo todo, e eu colecionava cartas dos editores do mundo todo. Certo dia, revesti todas as paredes da casinha do meu cachorro com toneladas de cartas das editoras. Meu cão ganhou um loft luxuoso de parede dupla e revestimento de papel de parede finíssimo... Nunca o vi tão feliz. Foi o inverno mais aquecido que ele já passou. Abanou o rabo para mim por meses, sem nenhum motivo aparente... (risos). Quanto a mim, voltei para casa e continuei escrevendo meus livros e mais cartas para agentes. A única coisa capaz de enfrentar tantas repostas negativas é a crença que você deposita em seus sonhos, e eu me considero um sonhador. Um sonhador com o pé no chão sim, mas com certeza o mais louco de todos os sonhadores. Aquele que nunca desiste. Pois, todo sonho quando feito com coração sempre se realiza.


Onde você escreve?

Geralmente em casa, mas qualquer lugar serve. Um escritor compulsivo não vê hora, nem lugar para extravasar sua compulsão. Na sala, na cozinha, dentro de um ônibus, no banheiro, no avião, enfim, para mim não há um local especial para o processo criativo. A única coisa de que preciso é um papel e uma caneta, pois escrevo tudo a mão. A primeira versão é escrita totalmente com o coração (rápida, veloz e espontânea), e a segunda versão é escrita com a razão, passando tudo para o notebook e fazendo as devidas modificações, correções e acréscimos.


Como surgem os seus romances?

Da mente universal. Não da minha mente, mas da mente do Universo. Creio que não existe fonte melhor do que esta. Também, às vezes, a inspiração vem de algum personagem real do meu dia-a-dia, como por exemplo, do sujeito que me devia um dinheiro e que não iria me pagar... Bem, aqui surgiu um dos contos fantásticos que escrevi, chamado, “Os Cobradores”: O personagem principal vendo que não conseguiria cobrar a dívida, através de um anúncio de jornal contrata dois cobradores pelo telefone... Infelizmente ele não sabia que os cobradores eram dois orientais de uma antiga sociedade do Japão feudal. Peritos em artes marciais, loucos e assassinos... E assim vai a história... (risos).


Por que alguns dos personagens de seus livros sempre estão envolvidos com livros, como admiradores e leitores com pequenas bibliotecas particulares?

Por causa da paixão que tenho pelos livros e pela leitura. Os personagens podem ser desde um síndico que mora no porão de um prédio, ou um ermitão no alto do Himalaya, ou um antigo Olmeca no deserto do México, todos eles sempre têm uma pequena biblioteca com muitos livros que lêem com prazer... É uma tentativa de dizer que podem não ter muitas coisas, mas não podem faltar livros ao redor deles (na minha vida é a mesma coisa). Mas em todos eles fica claro que apenas ler traz o que chamamos de conhecimento, mas aplicar o que se lê poderá nos trazer sabedoria.
Também porque há duas maneiras de expandir a mente do homem, e ver que o mundo e o Universo são grandes e ilimitados. Uma delas é viajar muito, mas uma opção para poucos, pois nem todos têm condições disso. E outra maneira de romper os limites da mente e também muito mais barata e acessível a todos, é ler um livro... Resumindo, nem eu e nem alguns de meus personagens conseguimos nos separar dos livros.


Outros livros futuros?

Sim. Pois acho que estou viciado em escrever (risos). Às vezes, surgem idéias nos lugares mais absurdos. Alguns personagens tomam vida e invadem meu cotidiano. Em alguns momentos a criatura (personagem) tenta tomar conta do criador (escritor), mas graças à Nicola Tesla e uma de suas máquinas de descargas eletromagnéticas, então, “a criatura” volta para seu mundo (risos)... Em resumo, escrever é envolvente e uma grande viagem.
Quanto a outros livros, um segundo livro já está pronto. Um livro só de mensagens de várias culturas, povos, e consciências de Ocidente à Oriente. Há também um terceiro, e um quarto, ambos romances tão envolvente quanto o primeiro. Há ainda mais 3 livros que estão fermentando em minha mente e loucos para pular no papel; mas “tudo ao seu tempo”, já dizia um certo chinês, amigo meu. Também escrevi outros gêneros, pois acho que um bom escritor deve se aventurar por outros gêneros. Entrar em um laboratório diferente, e ver que tipo de “criatura” surgirá dali... Há dois de humor ácido, um de contos fantásticos, um de terror e dois thriller, mas todos na forma de romance, com enredos, personagens, etc.
Não há muito tempo (pois me dedico a outras atividades também) para todas as idéias que tenho, mas como acredito muito no meu trabalho e ele é feito de todo coração, não há porque se preocupar com os caminhos de um escritor estreante. Logo, vou me dedicar totalmente a escrever. Eu e minha agente estamos trabalhando para isso. Tudo vai sendo materializado apenas com uma caneta e uma folha em branco. Esse foi e ainda é o ponto de partida para tudo.


Como você aprendeu a escrever? Quem o ajudou?

Creio que o meu melhor professor sempre foi a leitura. Li e ainda leio muito. Desde a infância era o que se pode chamar de “um rato de livraria”. Assim, como para aprender a pintar um quadro que inspire e impressione as pessoas, é necessário fazer muitos desenhos. Apenas com um lápis, um pedaço de carvão e os dedos para dar os efeitos de luz e sombra. Se você quer aprender a escrever, bem, aprenda a gostar de ler antes de mais nada.
Aprendi também com muitos autores que admiro profundamente: Carlos Castañeda, Isabel Allende, Hemingway, Eric Van Lustbader (sou grande fã e admirador desse escritor), Barry Eisler, Julio Verne, Henry Rider Haggard, Eiji Yoshikawa, Ryûnosuke Akutagawa, Takashi Matsuoka, Lian Hearn, Will Ferguson, Michael Crichton, Isaac Asimov, Ray Bradbury, Edgar Alan Poe, Alfred Hitchkoc, Stephen King, H. P. Lovecraft, Tolkien, Richard Matheson, Woody Allen, Jack London, Rumi, Tagore, Yogananda, Aivanhov, Thailard de Chardan, Willian Blake, Herman Melville, Joseph Campbell, José Saramago, Fernando Pessoa, Alberto Vásquez-Figueroa... Tenho que parar por aqui, pois são centenas. Quanto aos nacionais, gosto muito de Castro Alves, Carlos Drumond de Andrade, Monteiro Lobato, Luis Fernando Veríssimo, Mário Quintana, Eduardo Bueno (Peninha), Alexandre Raposo, e mais recentemente André Vianco e Kizzy Isatys, novos escritores na linha sobrenatural/terror, que como eu, também comeram um quilo de sal, até acharem um bom editor. Também não posso esquecer de citar, Orlando Paes Filho e Raphael Draccon, na literatura fantástica... só para citar alguns. Como vêem sou bem eclético para leituras.


Em uma entrevista você falou com muita admiração do escritor Eric Van Lustbader?

Sim. Para mim ele é o melhor escritor do gênero thriller (novels de suspense). Li todos seus livros editados no Brasil e aprendi muito lendo-os. Há também o fato de que, ele mistura elementos que são típicos de minhas histórias, porém adaptados de uma maneira magistral e com um suspense do início ao fim. Perto dele eu me sinto como um discípulo, pois ele é o mestre, quando o assunto é escrever. Um dos grandes sonhos que tenho é um dia conhecê-lo e também escrever um livro com ele... Como disse antes, eu não acredito no impossível.
Lustabader escreve dois tipos de livros: Livros de fantasia (Fantasy Books) e novels de suspense (Thriller). Conheci seu primeiro livro editado no Brasil chamado “Ninja” (The Ninja). Li-o num fim de semana e comprei todos os livros dele publicados em Português (Jian, Miko, Coração Negro), mas havia poucos. Procurei livros dele editados em Espanhol (também eram poucos). Na época, como não sabia Inglês, creio que comecei a estudar este idioma só para ler os outros livros dele. Muitos o conhecerão pelo seu último thriller adaptado pelo cinema de maneira magistral na trilogia The Bourne Legacy, sobre a saga do agente Jason Bourne.
O site do autor é www.ericvanlustbader.com




Pelo visto você também é um admirador de cinema?


Tanto quanto de livros. Quando lemos criamos todo um mundo (ou um set de filmagem) em nossa cabeça, e é isso que procuro passar para os leitores quando escrevo um livro. Escrevo criando um mundo visual para o leitor. Ler à medida em que as cenas se desenvolvem na mente do leitor, onde ele não só é um espectador como também um participante. O cinema proporciona a mesma coisa. Um bom diretor e um bom produtor conseguem extrair e captar isso da mente do escritor e transformam tudo em imagens, e ninguém faz isso melhor do que Steven Spielberg e Zhang Yimou, grandes diretores/produtores que admiro profundamente. Para mim eles são os melhores dos melhores, e seria um grande sonho ter um de meus livros adaptado para o cinema pelas mãos desses diretores, pois creio que seriam os únicos capazes de criar com realismo fantástico todos os efeitos e as locações de meus livros. O principal na obra de Spielberg e Zhang Yimou, é que todos seus filmes têm um profundo lado humano nos personagens. É assim que procuro escrever, pois, por mais fantástica que seja a história, os personagens têm um lado humano como fio condutor da história... Como não acredito no impossível, um dia vou conhecer estes diretores fantásticos... Sou um sonhador, e sonho em conhecer “os melhores”.


Quantos sonhos...
Mais algum sonho, em especial?

Com certeza muitos, mas já que você falou... Conhecer a apresentadora Oprah. Primeiro, porque ela é “uma alma antiga”, e toda alma antiga vêm com uma enorme compaixão no coração. E, segundo, pelo entusiasmo que ela tem pela vida, e pela maneira como ela passa isso a todos seus telespectadores... Para mim ela é a melhor apresentadora que já existiu... e também, é muito divertida.
Resumindo, ela é a personificação da máxima, de alguns personagens de meus livros... Pessoas que usam o amor e o bom humor em sua existência.



Para ser um bom escritor é necessário ser um bom leitor?

Não chega a ser uma regra, mas é um pré-requisito que ajuda muito a colocá-lo no caminho para ser um bom escritor. Já o contrário sim, é uma regra. Quem não tem o hábito de ler, certamente será um péssimo escritor.


Tanto você como alguns de seus personagens têm uma paixão declarada pelos livros. Até que ponto vai essa paixão?

Poderia lhe dar dezenas de razões por essa paixão incontrolável, mas prefiro tomar emprestadas as palavras de Carmen Balcells, a melhor e mais profissional agente literária do mundo, a quem admiro muito por ser uma defensora declarada dos direitos dos escritores. Tanto os antigos como os novos autores devem muito a essa espanhola de sangue quente e coração amoroso, que valorizou o trabalho dos escritores perante as editoras.
Nas palavras de Carmen Balcells: “... Ler é o ato mais livre e solitário de um indivíduo. Não se aprende nada sem ler e quando encontramos algo que nos cativa, é um prazer imensurável, uma autêntica orgia do cérebro. Para experimentar isso não são necessárias nem muitas horas para isso: ler vinte páginas de um livro importante pode mudar a sua vida...”


Você pode ler meus originais, fazer o prefácio de meu livro e recomendá-lo a uma editora?

Por orientação de minha agente literária só posso ler um livro após a sua publicação. Prefácios também não posso fazer a não ser por sugestão de meu editor. Assim como ler originais e recomendá-lo a uma editora é complicado por uma questão de direitos autorias e também uma maneira de preservar a integridade da obra desse autor estreante. Sendo assim, só posso ler um livro depois de editado.


Qual a sua religião?

Minha formação é católica. Mas o mundo e o Universo são tão grandes que não tenho a pretensão de erguer somente uma bandeira. Prefiro dizer que pratico uma religião chamada Universalismo, pois a verdade se encontra em muitas fontes, e de todas elas bebo um pouco. Praticar o que os grandes mestres do passado de todas as religiões e filosofias disseram, é praticar a verdadeira espiritualidade. Praticar quer dizer, disciplina e atitudes. A essência está dispersa por todos os lados, e é nossa missão reunir todas elas em um único frasco. Um frasco chamado homem.



Você aceita discípulos e seguidores?

Não. De jeito nenhum... (risos)... E também porque não quero ser mestre de ninguém. Sou um discípulo do Universo, além do fato de que ser um discípulo é sempre mais divertido... (risos).


Fale sobre seus próximos livros?

Por um contrato que tenho com minha agente litarária e os editores, só posso falar de um livro após sua publicação... Gostaria muito de dividir algumas passagens do próximo livro com os leitores, mas devo respeitar os contratos. A única coisa que posso falar é que há muitas surpresas e reviravoltas, com os novos personagens.